Uma vez que não existia ainda qualquer túnel no fundo obscuro da minha alma, decidi escavar um com as minhas próprias mãos, com os meus próprios dedos. Motivo para o fazer não o tinha, excepto descobrir em mim qualquer raio de luz no imenso breu da minha alma. Lancei-me ao trabalho. Foi um hercúleo esforço de inicio pois quando retirava a terra do túnel ela resvalava novamente para o seu interior. Fiz-me por entristecer para que a minha alma pudesse chorar e desse modo, com a ajuda das lágrimas, poder fixar a terra no exterior e nas paredes do túnel. Assim formei os primeiros metros, com lágrimas e terra suja, com lágrimas e húmus, com lágrimas e receios do fundo obscuro da minha alma. Fui avançando sem nunca sair do mesmo sitio. A terra fixava-se cada vez melhor nas paredes do túnel pois eu nunca deixei de chorar. Contudo, deparei-me com um problema: O túnel alargava mas em profundidade não havia maneira de o fazer avançar. Os meus dedos perderam pele, carne, osso, mas eu nunca deixei de escavar, fi-lo com muito afinco. Demorei-me dias, semanas, meses, e a verdade é que ainda escavo o túnel no fundo obscuro da minha alma, decorridos que estão já todos estes anos.