Segunda-feira, 27 de Julho de 2009

Uma vez que não existia ainda qualquer túnel no fundo obscuro da minha alma, decidi escavar um com as minhas próprias mãos, com os meus próprios dedos. Motivo para o fazer não o tinha, excepto descobrir em mim qualquer raio de luz no imenso breu da minha alma. Lancei-me ao trabalho. Foi um hercúleo esforço de inicio pois quando retirava a terra do túnel ela resvalava novamente para o seu interior. Fiz-me por entristecer para que a minha alma pudesse chorar e desse modo, com a ajuda das lágrimas, poder fixar a terra no exterior e nas paredes do túnel. Assim formei os primeiros metros, com lágrimas e terra suja, com lágrimas e húmus, com lágrimas e receios do fundo obscuro da minha alma. Fui avançando sem nunca sair do mesmo sitio. A terra fixava-se cada vez melhor nas paredes do túnel pois eu nunca deixei de chorar. Contudo, deparei-me com um problema: O túnel alargava mas em profundidade não havia maneira de o fazer avançar. Os meus dedos perderam pele, carne, osso, mas eu nunca deixei de escavar, fi-lo com muito afinco. Demorei-me dias, semanas, meses, e a verdade é que ainda escavo o túnel no fundo obscuro da minha alma, decorridos que estão já todos estes anos.



publicado por Mário Ramos d´Almeida às 20:20
Da infância, da vida e da morte.
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